terça-feira, 15 de setembro de 2009

Juventude e Internet: Benéfico ou maléfico?, por Eva Aparecida

A internet é o maior meio de comunicação do momento, não limitando se a espaços, distâncias, classes sociais e idade. A cada dia vem tomando o espaço da mídia impressa, do rádio e da TV e, por aglutinar todos os tipos de textos (escrita, imagens e sons) ela tem o poder de chamar a atenção dos jovens, tornando o maior meio de socialização contemporâneo.


Sobre esta variedade dinâmica cito Moran (2001) “a Internet é uma mídia de pesquisa, cuja palavra chave é a “busca” o “search”. É também uma mídia de comunicação, com ferramentas como o “chat”, o “e-mail”, o fórum” (p.6). Diante de todas essas possibilidades que oferece a internet e discutidas por Moran como interessantes para serem utilizadas na educação, Dimenstein (1998) observa ainda que:



Por causa dos novos meios de comunicação, em particular a Internet − a rede mundial de computadores −, nunca em toda a história da humanidade idéias, informações de produtos circularam com tanta rapidez. Diante de um computador, qualquer indivíduo pode ter acesso ao mundo: desde museus, passando pelos mais importantes jornais, até a comunicação com amigos do outro lado do planeta, ao preço de uma ligação local. Estes avanços colocam novos desafios e ameaças, mas, ao mesmo tempo, democratizam o saber e facilitam o progresso individual. (p.9)



Considerando a complexidade e a riqueza a escola precisa entender como os jovens fazem uso da internet e suas representações, para melhor utilizar seu potencial de modo significativo no espaço escolar. A dimensão da internet sufoca o espaço do educador tradicional dentro de quatro paredes e este perde a importância como ator principal do meio social de formação: a escola. Dimenstein diz que "O casamento do computador com a linha telefônica transforma as residências em extensão do escritório (...) Agora, as casas ameaçam virar também sala de aula”. (1998, p.18)


É nesta perspectiva que a escola e os educadores precisam preocupar, buscando alternativas de associar a internet em suas práticas cotidianas. E que esta associação não seja de certa forma apenas um modo de reproduzir o que a internet oferece sem nenhuma intervenção critica. Pois, se assim for, o individuo torna-se insensível e até alienado pelo fato de muita informação recebida.


Para que a tecnologia seja uma extensão do homem, este precisa fazer uso correto em prol de si e seu crescimento intelectual, de forma critica e criativa. O educador contemporâneo tem ficado alheio a esta nova tecnologia (internet), mesmo sendo seus conteúdos imbuídos de múltiplas linguagens (palavra escrita, palavra falada, som e imagem). Portanto, ter disponibilizado e saber como usar, é essencial para não cairmos ao que nos informa Silva (2008):



Marshall McLuhan (1969) vê a mídia como extensões do homem, que aumentam o poder e a influência, mas que talvez capacitem ou incapacitem, enquanto objetos e sujeitos da mídia que enredam mais e mais no profilaticamente social. (p.35).




No inicio do século XX quando McLuhan escreveu que os meios são extensões do homem, talvez o autor não imaginasse que chegaríamos ao final do século com tantas informações e tecnologias, sendo necessário preocupar com uma educação especifica para o uso dos meios.


Com relação à intensidade de desenvolvimento tecnológico e seus efeitos negativos ou positivos sobre o homem, podemos relacionar ao que escreveu McLuhan sobre o desenvolvimento da imprensa em seu livro “A Galáxia de Gutenberg”, que diz o seguinte “o conteúdo da escrita ou da imprensa é a fala. Mas o leitor permanece quase que inteiramente inconsciente, seja em relação à palavra impressa, seja em relação à palavra falada.” (McLuhan, 1967, p.33).


Diante disso, o importante é que o educador seja capaz de navegar pela rede e descobrir coisas novas que possa utilizar em suas práticas. Com esta experiência será possível junto com seus alunos construírem e divulgarem conhecimentos, tendo consciência e conhecimentos sobre mídias, para que esse exercício não se torne simples repetição. Pois de acordo com Moran:



Ensinar na e com a Internet atinge resultados significativos quando se está integrado em um contexto estrutural de mudança do processo de ensino-aprendizagem, no qual professores e alunos vivenciam formas de comunicação abertas, de participação interpessoal e grupal efetivas. Caso contrário, a Internet será uma tecnologia a mais, que reforçará as formas tradicionais de ensino. A Internet não modifica, sozinha, o processo de ensinar e aprender, mas a atitude básica pessoal e institucional diante da vida, do mundo, de si mesmo e do outro. (Moran, 1997, p.7)



Dominar as linguagens tecnológicas e o seu conteúdo é também uma proposta de Kellner quando ele afirma que:



É importante que esse projeto seja desenvolvido, para o ensino de um modo crítico de decodificar as mensagens da mídia e de distinguir seu complexo espectro de efeitos. É importante a capacidade de perceber as várias expressões e os vários códigos ideológicos presentes nas produções da nossa cultura e fazer distinção entre ideologias hegemônicas e as imagens, os discursos e os textos que as subvertem. Também é importante aprender as discriminar entre o melhor e o pior da cultura da mídia e cultivar as subculturas contestadoras e alternativas (...). Isso exige o aprendizado da discriminação e do cultivo dos melhores saberes da cultura da mídia, além de outras modalidades de cultura. (Kellner, 2001, p.424-425)



Essa preocupação de Kellner em decodificar as mensagens, suas ideologias, discursos e textos é o que tem que ser considerada pela escola. Pois, devemos levar em conta quem pertence os meios; quem tem domínio sobre os conteúdos e quem constrói informações, para que todos sejam atores em “um ambiente rizomático, sem começo nem fim, onde o próprio internauta decide qual caminho seguir” (Capobianco, 2009, p.12)


Silverstone (2002) e Thompson (1998) discutem e alertam sobre o papel da mídia na formação educacional. Silverstone (2002) propõe estudar a mídia numa dimensão social, cultural, política e econômica. Estudá-la como algo que contribui para nossa capacidade de compreender o mundo, de produzir e partilhar seus significados. Para o autor o estudo da mídia deve ser uma ciência relevante e também humanista. A escola deve ter o estudo da mídia como conteúdo em suas práticas diárias.


Nas palavras de Thompson (1998), os meios de comunicação produzem mudanças com muita rapidez na vida dos indivíduos, interligando-os globalmente. O referido autor defende a força da mídia, como influenciadora na formação e educação, por isso aconselha que os professores trabalhem mais a natureza e o processo de construção e desenvolvimento das mensagens da mídia.


Portanto, além saber usar a tecnologia na sala de aula, tem saber como utilizar seus conteúdos fazendo uma leitura critica e o uso criativo. Dentro dessas perspectivas e levando em consideração o que os teóricos pensam sobre a mídia, as novas tecnologias e os novos modos de aprender, é possível verificar que as práticas de ensino e de aprendizagem contemporâneas são enriquecidas e tornam-se muito mais significativas.



Referencias Bibliográficas


CAPOBIANCO, Janaina. Juventude e Internet. In: Introdução a uma leitura critica e criativa das Mídias. Modulo 6: Cuiabá, 2009.



DIMENSTEIN, Gilberto. Aprendiz do Futuro. São Paulo: Ática, 1998, 2ª edição.



KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia – Estudos Culturais: Identidade e Política entre o Moderno e o Pós-moderno; tradução de Ivone Castilho Benedetti; Bauru; EDUSC, 2001.



MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix, 1969.



_________________. A Galáxia de Gutenberg. São Paulo: Cultrix, 1967.



MORAN, José Manuel. Como utilizar a Internet na educação. In: Revista Eletrônica Scielo-Brasil-Ci.Inf. v.26 n. 2 Brasilia May/Aug. 1997 http://www.scielo.br/pdf/ci/v26n2/v26n2-5.pdf - 01/07/2009


______________. Novos desafios na educação - a Internet na educação presencial e virtual. In: Saberes e Linguagens de educação e comunicação, organizado por Tânia Maria E. Porto. Editora da UFPel, Pelotas, 2001, páginas 19-44.



SILVA, Eva Aparecida da. Música na televisão: recepção e educação musical em Barra do Bugres-MT. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Linguagem, Pós-graduação em Estudos de Linguagem, Área de concentração: Estudos Literários e Culturais, 2008.



SILVERSTONE, Roger. Por que Estudar a Mídia? . São Paulo: Edições Loyola, 2002.



THOMPSON, John B. A Mídia e a Modernidade: uma teoria social da mídia: tradução de Wagner de Oliveira Brandão: revisão da tradução Leonardo Avritzer, Petrópolis: Vozes, 1998.


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